A discussão em torno da preservação/conservação da floresta amazônica é um tema recorrente há décadas nas diversas áreas do conhecimento, em diversos fóruns mundiais, enfocando as distintas visões e pensamentos sobre o tema e os modelos de desenvolvimento para a região.
Alguns artigos e reportagens recentes buscam chamar atenção desse tema colocando em pauta um desafio para criar uma nova mentalidade de se pensar a preservação da Amazônia, que seria uma mudança de mindset5.
Mindset é um estrangeirismo que literalmente poderia ser traduzido por configuração da mente, dos pensamentos. Na prática, “significa o tipo de mentalidade que cada pessoa tem sobre a vida”6, que nada mais é o modo que uma pessoa pensa. “O conjunto de ideias, crenças e valores que uma pessoa possui é responsável pelo seu mindset”7.
A mentalidade do movimento social seringueiro sobre a conservação da Amazônia ficou expressa na criação das Reservas Extrativistas (RESEX), em particular na RESEX Chico Mendes, tendo em vista uma peculiar identidade cultural e visão de mundo, moldadas nos embates do referido movimento, na busca pela reprodução social dessa população.
Agora, uma questão pertinente, após 30 anos da implantação das primeiras, RESEX pode ser levantada: será que essa mentalidade continua na geração atual de extrativistas? A hipótese que será trabalhada é que de forma geral a mentalidade moldada no movimento seringueiro ainda orienta em parte a identidade e visão de mundo das gerações atuais, mas as dificuldades de reprodução social das famílias nas RESEX, ao longo do tempo, estão levando a geração atual a mudanças e práticas menos relacionadas à tradição seringueira.
Assim, buscando-se entender a percepção das famílias em termos de mindset de uso da terra, participação das mulheres e jovens nas decisões familiares e sucessão familiar na RESEX Chico Mendes se propõe analisar as entrevistas de pessoas das famílias8 que se dispuseram a responder as perguntas sobre os referidos temas, junto a um diagnóstico socioeconômico realizado no final de 2019.