Disforia de gênero refere-se à auto identificação de um indivíduo com características sexuais diferentes daquela com a qual foi designado biologicamente. Essa incongruência, muitas vezes, contribui para que tais pessoas busquem terapias hormonais com o objetivo de tornar suas características sexuais secundárias mais alinhadas à sua identidade de gênero e, no caso dos indivíduos transmasculinos – aqueles que fazem a transição do sexo feminino para o masculino – o uso mais recorrente é da terapia hormonal com testosterona. Embora os efeitos da terapia de afirmação de gênero com testosterona não sejam bem esclarecidos, estudos mostram que ela pode ocasionar repercussões endócrino ginecológicas, principalmente nas funções ovarianas e na morfologia uterina (MCFARLANE et al., 2019). Nesse contexto, a demanda por serviços de saúde por transexuais tende a aumentar e ainda é vigente o enfrentamento de muitas barreiras para o cuidado, visto que até 33% dessa população relata desmazelo ao ter acesso ao serviço de saúde devido à condição de transgênero (MAYHEW et al., 2020). Tendo isso em vista, é crucial que os ginecologistas sejam cultural e clinicamente competentes para entender suas necessidades específicas, bem como que estejam cientes da discriminação social e médica que as pessoas transgênero encontram, de forma que recebam cuidados abrangentes e sem julgamentos (DENDRINOS et al., 2019). O objetivo do presente estudo é elucidar aspectos relacionados às repercussões endócrino ginecológicas e psicossociais da terapia hormonal com testosterona na transexualidade, bem como abordar acerca de formas eficazes e empáticas de acolher, atender e abordar uma pessoa trans ou não-conforme de gênero (TNG).