Uma das formas de violência baseada no género é a mutilação genital feminina, que consiste num atentado aos direitos e liberdades limitando a autodeterminação de meninas e mulheres, privando-as do direito à integridade física e psicológica e com consequências para a saúde das mutiladas. Sendo um problema de direitos humanos, de saúde pública e de igualdade da mulher, que afeta as populações onde a prática ancestral é originaria, mas também os países que acolhem imigrantes oriundas destes locais. Neste capítulo enquadramos a natureza, magnitude e extensão do fenómeno e apresentamos um estudo transversal, descritivo e qualitativo. O objetivo é caracterizar os fatores que contribuem para a continuidade da mutilação genital feminina. A amostra de conveniência é de seis mulheres com idades entre os 18 e os 26 anos, provenientes de famílias de origem africana, que frequentam uma comunidade islâmica na periferia de Lisboa. O método de tratamento do material empírico é a análise de conteúdo e o referencial teórico é o Neuman Sistems Model. Os achados evidenciam que vários fatores contribuem para a continuidade desta prática como: querer respeitar a tradição e as normas comunitárias; ser reconhecida como mulher; gerar sentimentos de pureza e de pertença ao grupo; pressão externa da família e da comunidade e influência religiosa.