A leptospirose é uma das mais importantes doenças zoonóticas, de ocorrência frequente em animais domésticos. Devido ao padrão de convívio muito próximo com as pessoas, os animais de companhia constituem um importante fator epidemiológico para a transmissão da doença aos humanos. A leptospirose canina geralmente tem apresentação como doença aguda, entretanto, pode se manifestar de forma insidiosa, com desenvolvimento de hepatite crônica progressiva e episódios de agudização e manifestação clínica evidente. Neste capítulo, realizamos um estudo de caso de um canino que apresentou sinais clínicos típicos de leptospirose aguda, mas que já evidenciava características de hepatite crônica com fígado em estado terminal. O cadáver de um cão fêmea, de 7 anos de idade, sem raça definida (SRD), pesando 3,9 kg, foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus de Araguaína, para exame necroscópico. O animal havia sido atendido na Clínica Veterinária Universitária da UFT, não era vacinado e mantinha acesso livre ao ambiente externo do domicílio. À necropsia, foram observados intensa icterícia, hemorragias em subcutâneo, fígado em estágio terminal, gastrorragia aguda grave, enterite segmentar hemorrágica aguda (intestino delgado), tiflite necrohemorrágica difusa aguda grave e pulmões com edema agudo e hemorragia. A histopatologia revelou hepatite linfoplasmocitária, com nódulos de regeneração e fibrose e nefrite intersticial linfoplasmocitária subaguda leve e nefrose tubular. A análise do histórico clínico (dados epidemiológicos), associados aos achados anatomopatológicos característicos, direcionaram o diagnóstico para hepatite crônica canina relacionada à leptospirose por Leptospira interrogans sorogrupo grippotyphosa. O exemplo de caso evidencia a importância de instituição e manutenção de plano de vacinação completo, devido à importância zoonótica da leptospirose, com possibilidade de ocorrência insidiosa e aumento de risco de transmissão ao ser humano e outros animais.